𝑺𝑨𝑹𝑨𝑯 𝑪𝑹𝑬𝑾𝑬 nunca havia se sentido sozinha em sua infância, apesar de ser filha única. Sua mãe havia morrido no parto de sua irmã, porém, a seu pai nunca havia lhe deixado faltar nada, e ele era mais do que o suficiente para ela. Nada poderia separar uma ligação tão forte como a deles, e mesmo quando ela fosse para algum colégio interno, o que aconteceria eventualmente, nunca iriam se separar. A alma boa de Sarah estava mais preocupada em frequentar a escola judaica durante as tardes e brincar de castelos e princesas com a babá, e não se atentou muito aos cabelos crescendo prateados na cabeça de seu pai, nem de como ele tirava aos poucos as decorações da casa grande de Paris, e parecia sempre preocupado, lendo o jornal ou ouvindo ao rádio ou ao telefone. Apenas quando ele a levou de malas prontas para um navio que a levaria para seu tio, marido da falecida irmã de sua mãe, na Inglaterra, que ela percebeu o quão séria a situação estava. Seu pai deu-lhe um beijo de despedida e uma carta, e seus inúmeros pertences, todas as peles e vestidos de veludo e seda, os sapatinhos, as meias e as bonecas, e lá no fundo, ela descobriu depois, algumas obras de arte, foram despachados com ela em direção a Londres. Já morava em Londres por um ano, e ainda se conservava inocente da guerra, com seu tio fazendo o que era possível para a proteger das pesadas notícias que chegavam. Com os bombardeios aéreos, Sarah foi despachada para a casa de um velho professor, em pleno campo, a quinze quilômetros de distância da estrada de ferro e a mais de três quilômetros da agência de correios mais próxima. ❧ Graphic by @anny__dyas
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