"Do dia em que nasci até os meus 7 anos, fui criada em um ambiente muito interessante. Afastado do centro da cidade, uma área periférica com praia. Nada de asfalto, muitas árvores, terra, barro e, na praia, obviamente, com muitas pedras, mar e areia. Das conexões da natureza, me recordo apenas de algumas coisas pontuais. Lembro de me sentar, próxima ao muro da frente de casa, pegar uma pedrinha e bater um papo com ela. Ouvir suas palavras inaudíveis, rir de suas expressões invisíveis. Cresci e perdi o contato com isso tudo. Talvez amadurecer te tire algumas conexões. Até que... mudei de cidade. A verdade é que a mudança, somada com a puberdade, as inseguranças e alguns traumas de infância envolvendo bullying e racismo me desregularam completamente. Mas antes de se tornar tão visível assim a ponto dos meus pais se darem conta de que tinha que haver a intervenção de um profissional, eu escrevi O Alimento das Águas. Numa dessas fugas da realidade, em que a gente retorna ao conforto do passado, lembrei das minhas conversas com as pedras e imaginei como seria nossa última conversa." Em "Fábulas Epifânicas", Gia Borges percorre sentimentos como a angústia, a solidão, o medo da perda e a violência em uma coletânea de prosas poéticas de cunho reflexivos com personagens peculiares: uma pedra, um grão de areia, flores, em metáforas sobre sentimentos humanos.
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