O pacto dos mundos

Scarlett agora arfava, cansada, ao lado da cama, sob o sol. Terminava o ciclo da Lua Cheia, e agora ela olhava o torso nu e musculoso de Agnes sobre a cama. Ele estava acordado, silencioso, olhando para a janela, mansamente. Vampiros não costumavam se relacionar com lobisomens, mas os tempos eram outros. A vampira tinha em sua ascendência Venons e o sangue de um Xamã, ainda que prevalecesse seu lado vampiro. Agnes era um lobisomem quase puro, com sangue apenas de lobos e raposas em sua ascendência. No andar abaixo, os corpos dos mortos perdiam aos poucos o calor, e a segunda onda de insetos começava o desmonte das peças. Agnes não acreditava que conseguiria fazer sexo após tal selvageria, mas o que fez foi o resultado de anos de espera, de saudade e vontade reprimida de ver Scarlett. Ela preferia naquele momento não pensar nisso, que precisaram aniquilar vinte e três caçadores. Tinham acabado de se amar loucamente, como nunca em toda a eternidade de sua existência. Sentia-se uma cadela no cio, subindo pelas paredes literalmente, enquanto era possuída violentamente por Agnes, tomada por seus braços fortes e galopando sobre suas coxas que pareciam toras, enquanto segurava em sua pelagem sendo arrastada por todos os cantos daquele castelo, mordida pela nuca. Não. Nenhuma morte estava planejada, era apenas para que se encontrassem, simplesmente, e se amassem, como antigamente, como da última vez, há 40 anos, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial. Mas a humanidade ainda não se adaptou a conviver com a diferença, e prefere atacar sem ser atacada, prefere, por prevenção, a guerra, ao invés da paz. Mas com vampiros e lobisomens, essa estratégia não costumava funcionar.