O rugido da leoa

Para viver em Santo Antônio Escondido não é necessário muita coisa. Basta que goste do clima campestre, de moda de viola e, sobretudo, entenda que nesse espaço distinto do mundo os conflitos se resolvem na ponta de uma bala, ou de uma faca se é o que se tem em mãos.

Foi por isso que Rafa Kalimann não hesitou em lavar a honra de Gizelly Bicalho exatamente dessa maneira. Até porque que outra opção tinha?

A mineira, desde muito cedo, entendeu que na fazenda como na vida era necessário que tivesse o rugido mais forte unicamente por ser mulher, do contrário, seria sempre consumida pelos abutres que a cercavam.

O não deixar nada passar sem que demonstrasse sua força era o modo da leoa dizer para os outros e si mesma que era muito mais do que julgavam.

E não se arrependia dos seus atos, nem por um segundo, do que fazia com pessoas como Felipe Prior, nem mesmo quando vislumbrou o punhal que o feriu estar prestes a feri-la também.

É a lei do mais forte. E isso é outra coisa que, indubitavelmente, quem quer morar em Santo Antônio Escondido precisa saber.

E se o assunto era ser forte as irmãs Bianca e Marcela Andrade poderiam dar semanas de palestras. Expulsas de casa assim que foram condenadas por suas sexualidades foram vagando sem destino certo até chegar a, precisamente, a famigerada cidade interiorana.

Expectativas, sonhos e vontade de crescer, todas essas coisas ameaças pela marca da morte que ronda sua família tal qual um pássaro que pousa num galho e observa aguardando o momento de se alimentar de uma desgraça eminente.

Tão forte era esse chega a ser essa aura que não são capazes de afasta-la de si nem quando encontram pouso numa das fazendas mais renomadas da cidade: A Fazenda Kalimann, onde a morte encontra a sua outra face unindo quatro mulheres de uma forma irrevogável.

E o que acontece quando as duas caras da morte se encontram na mesma cidade? Essa é a parte que você não precisa saber se quer viver em Santo Antônio Esco