Nós éramos crianças inocentes, nós não tínhamos maldade no coração ou lágrimas nos olhos, tudo era um mundo de fantasias e as dores não existiam. Vivíamos em completa harmonia, cultivando nossos sonhos e alimentando nosso amor, nossa alma era apenas luz e nosso prazer era a felicidade.
Até a guerra começar.
Ali nós perdemos nosso sangue, nossa alma, nossa dignidade e a esperança. As luzes viraram trevas e o amor se transformou em ódio. Sorrisos deram lugar as lágrimas e a felicidade nunca mais voltou a brotar em nossos rostos.
Eu me lembro bem disso, me lembro da dor, das perdas, dos machucados. Lembro de sentir minha alma ser corrompida e um rio de sangue me banhar logo em seguida. Era o sangue das pessoas que eu amava. Todos que amamos morreram naquela época, todos com quem nos importávamos partiram sem conseguir deixar seu legado, sua esperança e amor.
Nós carregávamos as mesmas feridas no peito. Carregávamos o mesmo fardo do passado e o legado de nossos ancestrais. Mas com a guerra, fomos treinados para não sentir mais nada. Para não se ter emoção, não demonstrar fragilidade. Eles nos afastaram, porque nosso amor não seria útil num campo de batalha. Nos transformaram em inimigos para que pudéssemos ser as armas perfeitas de luta.
E fomos amaldiçoados para nunca mais sentir novamente nossos corações se aquecerem.