Naquela noite, no Bar do Seu José, ao lado de Pedro, Antônio jurou para si mesmo que jamais deixaria a vida cair em monotonia.
Era jovem, tinha apenas dezoito anos, acabará de entrar na faculdade. Tirado a poeta, passeava os olhos castanhos pelo local em busca da musa da noite e no canto do balcão, tímida, ele a encontrou.
Carmen parecia um anjo. Rabiscou versos num guardanapo e a entregou, conseguiu tirar um sorriso da moça e logo depois, um beijo. Aquela noite transformou-se em uma semana, um mês, dois meses, um ano... Antônio se apaixonou por Carmen, casaram-se no final do segundo ano de namoro.
Passaram-se sete anos e a vida caiu na monotonia.
Ela era o sol personificado em sua frente. Tinha olhos grandes, cor de âmbar, capazes de hipnotizar qualquer pessoa, e os lábios preenchidos, desenhados com tamanha perfeição que nunca tinha visto antes. O vestido amarelo combinava perfeitamente com a sua pele. Antônio sabia que era errado mas não estava nem ai, olhar não arranca pedaço e não é traição, pensou. Foi quando ela o olhou de volta e sorriu. Aquele sorriso era tentador, o deixou fraco. E depois de três anos sem escrever, a inspiração resolveu voltar, a mão coçou para pegar a caneta que estava em seu bolso e começar a rabiscar num guardanapo assim que ela voltasse a dar atenção a amiga, mas ela continuou encarando-o.
Foda-se, ele precisava ir até lá.Todos los derechos reservados