Miosótis - Jotília

Jânia sempre acreditou que o som curava, fosse o choro contido de um paciente ou a nota exata de um piano antigo. Musicoterapeuta dedicada, passava os dias mergulhada no silêncio alheio, tentando drenar o próprio ruído de um casamento que jamais teve fim, mas também nunca recomeçou. Do outro lado da cidade, Otília caminhava por corredores de museus com a leveza de quem entende que o tempo guarda histórias, mas também segredos. Museóloga de alma livre, colecionava amores como peças raras: com cuidado, respeito e um certo fascínio. Quando os caminhos dessas duas mulheres se cruzam, não parece haver lógica, apenas sincronia, como uma melodia inesperada que se encaixa perfeitamente na harmonia. Teria sido o acaso? Ou o próprio universo, em sua linguagem sutil, tentando restaurar o que nelas ainda buscava sentido?