Busquei minhas orelhas no chão da cozinha, lustrei meus olhos, colei de volta os cabelos presos no ralo. Um retrato cubista, usei o líquido viscoso que me preenchia para colar as partes juntas, e juntas, tronxas, elas caminharam. Se moveram até a cadeira, se agarrando no tampo da mesa, e despencaram no banco. Lá, com os dedos costurados juntos, seguramos a caneta com mais força que o necessário e fomos nos inventando. Com as palavras, conjurei meus braços, longos e roliços, com um cotovelo que gira trezentos e sessenta e cinco graus, prontos a me proteger. Inventei minhas pernas, e as fiz fortes, resistentes, de pele grossa, prontas para me levar a qualquer lugar que eu quisesse. Fiz a barriga, protegida e bronzeada. A cabeça e o rosto ainda não consigo constituir.All Rights Reserved
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