Catalina Sarmiento, quando embarcou num avião em direção a Europa aos dezesseis anos de idade, não esperava ficar dois anos consecutivos trabalhando no El Chaco. Não que ser garçonete não fosse um emprego digno o bastante, mas era frustrante saber que precisava guardar os seus sonhos de bailarina - por tempo indeterminado, - dentro de uma caixinha de música.
O seu pai, estando do outro lado do hemisfério, implorava para que a caçula voltasse para casa; e, Ave Maria, como Catalina sentia saudades da família barulhenta e do gosto de mate fresco. Só que não dava. Não poderia simplesmente deixar para traz o apartamento com as contas pendentes atrasadas ou abandonar sua vaga no Conservatorio de Danza María de Ávila.
"Falta tão pouco", ela dizia, "para chegar lá". E, bem, o "lá" para a argentina era conseguir um posto na Compañía Nacional de Danza. Se garantisse a vaga, alcançaria o nirvana. Contudo, para que isso acontecesse, precisava se esforçar mais e, caso não conseguisse passar na seleção, desistiria para sempre da dança. Retornaria - humilhada! - a Córdoba, ajudaria com o mercadinho da irmã e talvez, no meio do caminho, se casasse com Diego, o seu ex-namorado insistente.
Com tudo planejado - incluindo seus planos A(bençoado) e B(osta), - Catalina somente esquecera-se de que a vida é traiçoeira e no percurso algo sempre pode acontecer: para a melhor ou, quem sabe, pior. Nesse caso, um algo de 1.80 de altura, cabelos dourados e uma mania extremamente insistente em chamá-la de mamacita.Todos los derechos reservados