"Eu queria devorar esse moleque. Me sentia plenamente capaz de passar a noite inteira traçando ele, até meu pau esfolar. Meu peito tava agoniado. Em parte, eu queria respeitar ele, cuidar do moleque porque ele merecia demais essa atenção. E, em parte, eu queria rebocar ele de porra dos pés à cabeça. Mas, vamos por partes... Eu não vou ser lixo, porque esse moleque... porra, merece mais do que um cuzão que nem eu. Então, eu tenho que fazer por merecer... E se ele achar que eu mereço, meu amigo... Vou passar uns dias carregando ele no colo, porque ele vai levar tanta pica que vai ficar com as pernas bambas por uma semana, pelo menos. Eu quase ri, mas me contive. Por que eu tinha que ser tão loucão da cabeça? Ele tava ali do meu lado, caralho. Do meu lado." À flor da pele. Não há nada que defina melhor Alexandre, que após alguns anos colhendo a estabilidade de vida pela qual lutou e quase morreu para conseguir, aprendeu que era esse o estilo de vida que queria. Entretanto, existem erros que não se contentam em ficar no passado e através de ações que fogem do seu controle, ele vê tudo aquilo que construiu começar a ruir, ao mesmo tempo em que se vê de volta ao mundo do qual pensou estar cada vez mais distante. Cada vez mais envolvido pelo mundo do crime e pelos amigos dessa vida, que ele não foi capaz de se desvencilhar completamente, Alexandre busca refúgio nas drogas e, de uma forma muito estranha, em um garoto que surgiu em sua vida do nada, mas que toma seus pensamentos como se o conhecesse desde sempre. Entretanto, há algo sobre esse garoto que o levará de volta até o ponto que ele optou por esquecer até fingir que nunca existiu: "qual o real peso das minhas ações? E em que tipo de pessoas elas me transformaram?". Feito um buraco negro, Alexandre tem esses mundos que o orbitam sendo sugados para si, num evento que pode acabar não apenas com essas vidas, mas com a própria.
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