Dois mil e vinte. Esse ano foi anunciado com um fervor diferente para Júlia, que com seus vinte e um anos, estava indo para o segundo ano da faculdade de Ciências Biológicas. Ela se lembra da noite da virada, celebrada ao lado de sua família em Fortaleza, em que juras de dias melhores e felizes foram expostas...
Engraçado pensar que, um ano depois, a garota via todas aquelas promessas e juras de felicidade como palavras vazias. Suas esperanças para o ano seguinte estavam quase nulas, não morrer era seu único desejo. Nada demais havia acontecido, se olhasse positivamente, todavia, tudo que podia ter sido negativo, havia ocorrido: perdera um ano da faculdade devido as aulas online, enterrara sua avó, que falecera após sete dias na UTI com Corona vírus, estava há meses sem ver sua mãe, e seu namoro estava se aproximando da linha tênue que os tornaria estranhos.
Júlia brincava com suas amigas dizendo que havia uma conspiração internacional pairando sobre ela. Mas não era algo único, infelizmente, os eventos ruins estavam assolando diversas famílias, e as ideias pré-prontas de que esse ano fora de aprendizado além de desagradarem a garota, a irritavam. Por isso, não via motivos para se reunir com a família de seu namorado para receber o ano seguinte; não havia motivos a serem celebrados, não havia futuro, pois, seu presente não podia ser considerado existir.
Contudo, o ano mais turbulento de sua vida havia preparado uma surpresa o último dia: a esperança.