Tenho o costume de escrever o que me vier à mente onde estiver à mão. E o que está à mão é facilmente deixado dentro de armários, no fundo de gavetas e onde mais a distração levar. O fato é: eles se perdem. Pensamentos deixados para trás. Eles se acomodam entre outros bens também perdidos: documentos importantes, cartões de Natal, fotografias que não deixamos mais à vista. Móveis cada vez mais abarrotados de memórias que guardamos para poder esquecer. Em um dia desses de dezembro, no entanto, precisei esvaziar meu guarda-roupas. E cada caderno que emergia trazia consigo um verso do meu pretérito. Como se meu eu passado me deixasse recados. Cada linha, um fragmento de quem eu fui. De quem fui? Ou de quem sou? Quando um vidro se estilhaça, qual é o pedaço original?All Rights Reserved