A chuva forte caia do lado de fora da escura janela, os clarões constantes a assustavam fazendo com que ela se encolhesse cada vez mais na poltrona velha. Da sala ela ainda podia ouvir os gritos de seu pai e dos amigos dele enquanto jogavam e faziam apostas num jogo de cartas. Que morressem todos, não faria a mínima falta para ela. Outro estrondo forte e mais risadas vindas da sala. Ela não era obrigada a ficar ali, seus dezoito anos recém completados a permitiam liberdade suficiente para sair daquela casa de um vez por todas, ela só precisava da ajuda de alguém, duvidava que conseguisse fazer tudo sozinha e por mais que se odiasse por isso, ela tinha medo, muito medo de seu pai. Pegou o telefone em forma de hambúrguer que ficava ao lado da foto de sua mãe. Ela amava aquela foto, tinha tirado apenas alguns meses antes de sua mãe falecer em um acidente de carro. Sorriu fraco desejando com todas as forças que sua mãe tivesse sobrevivido e seu pai tivesse ido no lugar dela. Se isso tivesse acontecido, certamente as duas estariam felizes comemorando o aniversário de dezoito anos da garota. Ouviu a voz alta do pai vinda da sala, seguida de mais risadas, olhou o telefone infantil em sua mão e discou os únicos números que sabia de cor, aqueles números lhe transmitiam uma calma somente pelo fato dela discá-los. - Alô. - Aquela voz calma fez com que a respiração dela se acalmasse e seu corpo estremecesse.