Aquele seria apenas mais um dia, não como qualquer outro, na realidade aquela noite ele estava de folga e se preparava para estragar um pouco do físico invejável que possuía, já que não era sempre que sua profissão lhe permitia tais luxos. Iria comer qualquer bobagem e reassistir os mesmos documentários de sempre, longe da clínica e longe dos pacientes. Costumeiramente suas mãos naquele horário estariam enluvadas, seus olhos focados em um algum cérebro e a roupa descartável provavelmente suja com pouco sangue. Estava longe de tudo aquilo e esperava apenas a tranquilidade de um dia de folga como qualquer outro ser humano, no entanto, o telefone fixo tocando incansavelmente passou a incomodá-lo mesmo que deseja-se ignorá-lo, sua ética e benevolência com sua profissão o impediam. E se por algum motivo, ou pior por preguiça, houvesse hesitado em se levantar para atender à aquela chamada teria perdido o grande amor de sua vida. Aquela desconhecida que chegou beirando à morte em sua sala, qualquer outro em seu lugar não sujaria as mãos, ela era um caso perdido, suas chances eram mínimas e se caso a cirurgia ocorresse bem, ele não desejaria presenciar as sequelas terríveis que aquela garota teria. Mas ele não, ele não fugiria sem correr o risco, Madara não deixaria a vida daquela mulher se esvair sem ao menos tentar. E ele conseguiu. Sujou suas mãos com o sangue daquela menina que ainda tinha a vida pela frente, e conseguiu concluir aquela cirurgia que durou horas. Zelou por semanas, meses, o coma daquela mulher que pensou que nunca retornaria e no momento mais inoportuno... A notícia de que ela estava consciente fez todos no hospital se surpreender e presenciar aquele milagre. Contudo, como ele mesmo pensou e repensou: - As sequelas seriam graves, e uma delas... Quem estará ao seu lado nesse momento? Quem desejava aguentar aquele "fardo"? Ele não se importaria com as consequências! - O que está guardado no coração nem