Retorno às muralhas de Uruk
11 parts Ongoing Na epopeia de Gilgamesh, o herói inicia sua jornada partindo das muralhas de Uruk e, após enfrentar a vastidão do mundo, o luto e o confronto com a morte, retorna novamente a elas. O ciclo não é um retrocesso, mas uma expansão: o mesmo ponto de partida se transforma em ponto de chegada, agora revestido de consciência. É como caminhar em círculo, mas em espiral ascendente - volta-se ao mesmo lugar, porém em outro nível.
Assim também é a dor: ela fere como o cinzel na pedra, marcando sulcos profundos. Mas é nesses sulcos que pode brotar uma nova seiva, mais densa, mais resistente. O sofrimento, longe de ser apenas ruína, é a forja onde se tempera o ferro. Retornar às muralhas de Uruk, depois de ter visto o abismo, significa compreender que o recomeço não é negar a queda, mas incorporá-la, e fazer dela o alicerce de uma fortaleza interior.
O aprendizado, portanto, é que só quem encara a perda pode verdadeiramente valorizar o que permanece. O abismo ensina a fragilidade; as muralhas lembram a permanência. Entre ambos, nasce a força de seguir adiante, mais humano e mais inteiro.