"Até quando?"
Ethan tem nome gringo, mas sangue de moleque. É menino de comunidade desde o dia em que apareceu no pé do morro. Acolhido e criado por uma cafetina, ele tem a mente rápida e a boca afiada. Mas sempre falam dos seus olhos, que você é capaz de ver exatamente o que ele sente só de olha-los. Garoto sangue bom, as coisas não precisavam ser assim.
Sob a luz amarela do poste, ele mesmo tenta descobrir o que sente enquanto segura a mão pálida e gélida de uma garotinha de 9 anos, sua protegida. Morta, usada e descartada em um saco plástico no mesmo pé do morro onde ela morava. Ela é mais uma vítima do abuso, do tráfico, do descaso. Mais uma estatística. Só mais uma manchete, a mídia acabaria colocando o rosto dela em todos os cantos. Ethan não sabe se suportaria isso.
Mama, soberana do Ninho, repete a pergunta.
"Até quando, minha criança?"
Será que ela é capaz de ver seu olhar? De experenciar a dor que o quebra, de sentir o choro que nunca vem?
Desde o início da pandemia, as coisas não iam bem. Ninguém estava feliz com o governo, gente morrendo sem oxigênio, massacre na comunidade.
Sangue escorre pelas ruas sem asfalto do morro. Na tevê, notícias de um novo vírus, nas vielas comentam que alguém está vendendo uma nova droga, que o bagulho é insano.
A mesma droga que lhe tirou Lívia.
Ethan já sabe a resposta. Nunca foi religioso, mas no seu momento de maior escuridão, ele ora:
"Dai-me forças, meu senhor, para proteger os meus."
Engatilha a arma.
"Blinda-me contra o meu inimigo e afasta de mim a inveja do meu irmão."
Ele já sabe o que fazer, onde encontra-los.
"Dai-me o pão de hoje, mas não me deixeis cair em tentação."
Vai fazer com que paguem. Recitou o último verso de cabeça.
"E cuida dos meninos de comunidade."
Amém.
"[...] - Combateremos fogo contra fogo. -Falou e pegou as chaves do carro.- Peguem seus documentos, casacos e qualquer outra coisa, e me encontrem na sala. -Levantou-se.
Os meninos seguiram o pai em direção a sala.
- Para onde vamos? -Brick perguntou.
Mojo, que ajeitava o casaco,olhou para os filhos e suspirou.
- Vamos visitar um velho amigo meu que está a sabendo da situação e pode ajudar. -Respondeu e pegou os óculos escuros.
- E onde esse amigo está? -Boomer perguntou.
- Trabalhando na Penitenciária de Segurança Máxima de New Townsville."
Quando se é pai, tudo é uma nova experiência, ainda mais apos a perda da mulher da sua vida. Na paternidade é depositado carinho, afeto e muita ternura. Cuidar de uma criança no mundo exige muita responsabilidade e paciência, tanto nos momentos fáceis quando nos difíceis, mas é um desafio muito bonito e apaixonante.
Quando seus filhos correm perigo não é medidos esforços para poder protegê-los. Mas e se a proteção estivesse nas mãos das criminosas mais perigosas do mundo?
★ Baseado na música Unstoppable da SIA.
★ Iniciado em: 16/01/2021
★ Finalizado em: 16/10/2021