Como alguém ousa propor que sejamos perfeitos? Errar é tão natural quanto respirar. Você até consegue prender o fôlego, mas não por muito tempo e não sem angustiante esforço. As falhas estão marcadas no nosso código genético tanto quanto nossas características físicas e, tais como mudam as doenças e síndromes, mudam também os erros para os quais estamos predispostos. A sociedade, na tentativa de minimizar danos, desde o nascimento nos recebe com inúmeros controles morais externos - culturais, legais e religiosos - em nada comparáveis à potência de um mais forte e congênito, que costumamos chamar de consciência. Logo cedo, porém, descobrimos que errar pode ser muito prazeroso, divertido e empolgante; então nosso cérebro desenvolve mecanismos para racionalizar e justificar cada transgressão cometida, além de aperfeiçoar técnicas para encobri-las. Crescemos com a pressão de uma multidão de estímulos nos ensinando a diferença entre o certo e o errado e, mesmo o melhor aluno, vai escolher mal - ou cair - incontáveis vezes. O caminho é composto por um abismo que puxa outro, porque quanto mais erramos, mais descobrimos as consequências danosas que nos alcançam e, em outras frentes, mais percebemos que queremos repetir mesmo assim, a qualquer custo, porque uma força nos atrai como um ímã. Se você não for um psicopata, adicione a essa mistura a famosa culpa judaico-cristã - ou qualquer outra a depender do seu contexto - e está pronta a fórmula para um ser humano em constante conflito. Isso se você tiver sorte, porque, enquanto houver conflito, há esperança. No dia que ele se for, você foi vencido. Ou, se você tiver mais sorte ainda, você foi salvo.
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