Ninguém mais vai ao açude para nadar. Já faz anos. Isso se deve, em parte, ao fato de o maldito lugar simplesmente não oferecer segurança. Os pais contam aos filhos histórias sobre adolescentes que morreram afogados lá. Os adultos dizem às crianças que, se não tiverem cuidado, elas vão escorregar e cair naquela água fria, para nunca mais voltar, talvez levadas para as profundezas pelos espíritos tristes e desorientados de todas as crianças que se afogaram naquele local. Mas todas essas histórias de fantasmas servem apenas para esconder a verdadeira razão pela qual as pessoas não vão mais ao açude para nadar. É porque a água é muito especial - poderosa demais - para ser desperdiçada com um simples passatempo como nadar. Apesar de ninguém tocar no assunto, sabe-se que as águas profundas do açude possuem algum tipo de magia. É verdade que muitas pessoas se recusam a acreditar nas histórias que correm à boca miúda. Mesmo assim, todos os anos, um grupo de moradores da cidade vai até a praia rochosa do velho açude para oferecer um pouco de sangue e um bocado de desespero, para ver que tipo de salvação as profundezas vão lhes oferecer. Na verdade, o lugar não é exatamente um açude. Agora, porém, uma empresa comprou outra e o terreno que circunda o açude mudou de mãos. O novo proprietário, talvez por desconhecer a verdade a respeito do lugar, pretende drenar a pedreira e retomar as atividades de mineração. É claro que a pedreira não quer ser modificada, e os moradores querem manter as coisas do jeitinho que elas estão. O que acontecerá quando a maldição daquelas profundezas escuras for despertada e a realidade ceder?