- Por obséquio, dê-me as luvas!
Luvas essas de linhas trançadas
Aquecem meus membros mais frágeis nessa noite de Julho
Sinto o calor de uma mão em meu ombro direito,
Ao solar das botas eu ouço alguém se aproximar
Era Carlos, moço de barba feita, olhos esverdeados e sorriso largo.
Me entregou um bilhete em papel machê cor de café,
Que não pude abrir na hora.
Lhe vi no bosque, andando em sonambulismo
Casaco amarrotado e encardido faziam notar os dias de amargura.
A caminho de um cemitério recém inaugurado ele ia ao encontro de alguém,
Penso na estranheza da situação e um leve calafrio repousa em minha pele.
Chegando em casa, abro o bilhete que Carlos escrevera:
_Estou fadado a essa maldição, maldição que me faz levantar todos os dias na boca da noite para uma encontro em sigilo. Peço que me perdoe, principalmente por jogar tal fardo em tuas costas. Mas guarde-o para mim, por obséquio!
Vou ao encontro de tua irmã Verônica, morena de pele macia que agora fria me desperta desejo.
Com uma pá prateada, enferrujada, cabo em cédro,
Escavarei a procura do meu amor tárdio
Que nessa lua, será um corpo só meu.
Te conto isso não para interromper tuas noites de sono
Mas para que me acorde de mais um sonambulismo noturno e me ajude contra esse sofrimento pacífico que sinto