Uma obscuridade prevalecia na minha cabeça, estava tudo vazio, meus olhos ficavam parados no meio do breu. Até que uma ondulação surgiu. Sabe quando jogamos uma pedra no lago, e pequenas ondulações se fazem na água? Foi a mesma percepção. Primeiro uma, depois outra, e então uma terceira. Nessa última, as laterais da mancha negra começaram a tomar formas. Havia uma menina correndo num grande campo de mato baixo, eu pude sentir o perfume da relva. Escutei seu sorriso gostoso e jovial a correr despreocupada. A imagem não era muito nítida, eu não reconhecia a garota, mas me era tão familiar, que eu tinha uma sensação palpável de conhece-la.
Do outro lado o véu também titubeava, mas a sensação amedrontava. Um frio no dorso da minha espinha, fazia subir e descer. Minha mente me dizia para não virar e ver, mas meu corpo automaticamente fez a virada. Um ser sem uma forma definida, eu não consigo destingi-lo de um homem ou de uma mulher, algo andrógeno. Meu coração acelerava de medo e ao mesmo tempo eu sentia-me atraída. Seu rosto indefinido no gênero, contudo, limpo, liso, fino. O nariz pontiagudo como dos francos, arrebitado. Os lábios tão finos que preciso apertar um pouco a visão para poder enfocar. As orelhas redondas e bem implantada na parte lateral para posterior da cabeça. Um corpo esguio, longilíneo, sem as mamas, apenas a proeminência do mamilo sobre uma fina vestimenta brilhante que se adequava perfeitamente ao magricelo corpo. Com esses dados, supus ser um rapaz, mas quando minha visão continuou a descer, encontrei as vestes da parte inferior que muito se assemelhava ao tecido de cima, a não ser pela coloração um pouco mais escura. E sobre a pélvis, não se via nenhum volume, esse nó em meus pensamentos me aturdiu por um tempo, havia o desenho de sua parte feminina, pequeno, mas delineado.