Ruído e tremor das catapultas do lado de fora ecoavam dentro do cômodo. O ar estava empestado de cheiro de fogo e magia. Um leve zunido agudo permeava os ouvidos de Khalymor enquanto o mercenário tentava se atentar a leitura. Desistiu e fechou o grosso e velho livro de ciências ancestrais. Subiu as escadas de paralelepípedos e abriu a massissa porta de madeira. Do lado de fora, raios de energia mágica e projéteis de catapultas atingiam as muralhas com violência, sob o céu de cinza escuro e poluído pela guerra. O mercenário puxou da bolsa um pedaço de pergaminho. Leu o feitiço duas vezes para se certificar do processo de invocação. Girou os dedos em sinais mágicos, e em questão de segundos tornou-se invisível ao olhar. Assim pôde usar uma das laterais não atacadas dos muros para descer e fugir. Pegadas solitárias se formaram do lado da fortaleza cercada sem que pudesse se ver o seu ser formador. Bem como todos os jogos mortais e traiçoeiros que fizeram Khalymor e sua companhia chegar até aquelas circunstâncias. Jogos de mentes ardiolosas, fora de âmbitos materiais, a de quem somos fracos e mortais. Mentes para cuja vida servem como para nós, servem as cigarras do verão e os besouros da colheita. Khalymor não olhou para trás. Se negava a assistir as consequências de suas próprias escolhas, concentrava-se apenas no caminho a seguir e no que podia ser feito para o futuro. Algo dentro de si torcia para que todo aquele sangue fosse compensado com a morte de Fafnir.
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