Os rostos minúsculos se escondiam em algum tipo de névoa densa de desejo, e era difícil identificá-los entre o medo e a vontade, tudo transformava-se em uma mansa expectativa que engolia uma espectadora ansiosa do outro lado da rua. Um objeto de obsessão que tinha nome e queimava ardentemente.
Sade Dunne, uma voyeuse autointitulada, gostava de assistir à rotina dos vizinhos como um hobbie auspicioso e inocente, fazendo breves anotações sobre eles: costumes, comportamentos, compulsões e inclinações duvidosas, claro, havia inúmeras delas. Uma espécie de experimento social particular da vida privada dos moradores do edifício G. Talese, na esquina da Norman Mailer com a Janet Malcolm, na agitada cidade de Carnival Kane.
Na perspectiva nivelada de sua própria janela, Sade Dunne observava o apartamento do misterioso professor de História do prédio ao lado, que estava cercado por um campo magnético que despertava todos os gatilhos do seu interesse. Parecia levar uma vida pacata e sem grandes acontecimentos, contudo, gostava de decifrá-lo secretamente. Desde a metódica rotina matinal, com seus modos polidos e quase calculados cheios de uma elegância oculta nos movimentos, quase vagarosos e sem reflexão, todavia sedutores, como a sua figura inteira parecia ser diante das companhias que trazia para casa durante à noite. Mas Sade tinha certeza que havia algo errado com a profundidade imersiva daqueles olhos sem cor, a perfeição nivelada de uma pele que parecia não exibir um traço humano: pelos, poros, suor ou lágrimas. O mínimo que nos deixa identificar a natureza de um igual.
Um delírio oriundo de um profundo desejo ou uma realidade incontestável brilhando diante das retinas, a única certeza que Sade tinha era de que ele era maligno.
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