Nada se consegue sem sacrifício. E ao contrário do dito popular, quem espera
nem sempre alcança. Quem quer alguma coisa tem de pagar por aquilo que deseja.
Era uma vez uma garota chamada Eliza que sabia disso. Ela compreendia o significado do sacrifício e da renúncia, e o preço que pagou foi realmente muito alto.
Os índios diziam que a terra estava faminta e, portanto, ela foi devorada pela terra
para o bem de todos.
Mas os habitantes da região esqueceram a lição de vida que ela ensinou e sua
história. A cidade está passando por dificuldades, e as pessoas já não têm mais tempo
para histórias altruístas, apesar de trágicas. Nem mesmo a estátua de Eliza, no centro
da cidade, ajuda muito as pessoas a lembrar ou a se preocupar.
Na melhor das hipóteses, consideram-na apenas uma curiosidade. São poucos os que procuram se lembrar do que seus pais lhes contaram sobre Eliza e de como a cidade sobreviveu àquela terrível
seca há mais ou menos duzentos anos. Eles vêem apenas uma figura de pedra com as
mãos estendidas num gesto de rogo e os olhos cinzentos, grandes em súplica. A placa de identificação que havia na estátua caiu há muito tempo. As pessoas nem sequer se lembram do nome da imagem, muito menos da natureza de seu sacrifício.
Mas, em breve, elas vão se lembrar. Um ato trágico cometido nos ombros de
mármore da estátua aviva a memória pública, e o sangue derramado ali desperta
a terra novamente, operando um milagre. Como todas as coisas na vida, porém, o
milagre tem seu preço. A estátua de Eliza - e toda a terra ao redor dela - exige
novos sacrifícios.