Quase me afoguei em mim.
Há uns dias, eu decidi enfrentar aquilo que era meu maior medo. E digo que era meu maior medo, porque eu não me permitia nem percebê-lo ali. Sempre esteve, me cutucava rotineiramente, amedrontava durante a noite e imergia em meus melhores sonhos. Então, eu acordava! Deliberadamente, não me permitia continuar naquele lugar. No banho, enquanto a água queimava cada centímetro de pele, aquele medo parecia querer avançar. O que eu fazia? Colocava uma música, é claro! Eu é que não ia deixar minha mente me levar até lá.
Recusei insistentemente a ver que eu estava ali. Que aquele medo me pertencia mais do que eu teria coragem de dizer, ou, ao menos, pensar. Decidi, então, mergulhar. Lançar, cair, pular, literalmente, de cabeça. Tranquei a porta. Fechei a cortina. Apaguei a luz. Acendi minha luminária. Apenas ela contra a parede. Peguei os pedaços de papéis coloridos. Um de cada cor... Uma caneta. Música clássica. Um maestro se contentando em ser sua orquestra.
Meu medo? Ter a clareza de quem eu sou em minha mais profunda complexidade. Fui mergulhando, afundando. Naquele quarto cerrado, permiti ser o meu eu mais profundo, mais desconhecido. Estava disposto a ver até onde chegaria. Que criaturas bizarras ou fantásticas habitavam o mais profundo eu. Confesso que foi amedrontador. Intenso!
Talvez essa coletânea de cartas, que fui encontrando no caminho, nunca precisem ser verdadeiramente entregues. Talvez no momento em que elas nasçam, seu destinatário já saiba tudo que cada letra quis dizer. No entanto, isso não me impede. Escrevo! Escrevo mesmo que ninguém precise ler para compreendê-las.
Escrevo! Escrevo cartas. Cartas para