O som dos ventos

Nos primórdios dos tempos, não havia nada, nem o tempo e nem os ciclos, nem os céus e nem os lagos. Então da poeira e silêncio nasceram os Deuses, e estes criaram os sons, os cheiros e as cores. Delas descenderam a terra, que varreu o chão com o verde, os oceanos que inundaram as crateras com o azul, e as montanhas que gritaram ao quase tocar o céu.
Quando o mundo cantava com os sons dos ventos e brilhava com as cores brilhantes da flora, os Deuses criaram a vida, e então surgiram os animais, cada qual com sua música e beleza. Mas os Deuses não estavam satisfeitos, eles ansiavam por uma música mais profunda, e então, das plumas dos pássaros mais belos e com as mais lindas vozes, eles criaram os Rhutal, seus primogênitos mais próximos de suas imagens. Sua energia era sintonia para suas existências, e sua essência trazia felicidade aos Deuses. Os Rhutal veneraram os Deuses como crianças veneram seus pais, e seus costumes e cultura se basearam na forma mais primordial de adoração às suas imagens. Era belíssimo.
Porém um dos Deuses não se satisfez com suas crianças, o chamado da criação era desenfreado, e então de sua pura agonia perante a vontade de criar, nasceu o homem, os Deuses o viram com diligencia, a criança não tinha voz, cor ou música. Da ira de ser rejeitada, a criança bradou um coro de terror sobre a terra, fazendo os Rhutal se perderem em meio a tanto ódio, e os Deuses, a abandonar suas criações com desapontamento.
Quando o estrago foi feito e sua ira abrandou, o homem olhou ao redor, e percebeu que havia ganhado sua voz, mas no processo, fez todas as outras a abominarem. Ele não possuía música nem cor, apenas um bramir que expulsava a sinergia da outrora terra primordial.