Ódio era o principal sentimento que semeava na relação entre as famílias Tavares e Bianchi. A rixa não era algo recente; há décadas, um desentendimento havia levado a aquele sentimento intenso de repulsa e nunca houve uma tentativa de reconciliação. O orgulho era uma característica sobressalente e intensa, de forma que, continuar a alimentar a desavença parecia melhor do que encontrar uma solução para o conflito. Portanto, Cecília havia crescido com a ideia de que odiar Henrique era uma reação natural. Convivendo no mesmo círculo social por uma vida inteira, não faltaram oportunidades para uma aproximação, mas o receio era sobressalente a qualquer tentativa, embora o sentimento entre eles nunca tenha sido propriamente de desprezo. O envolvimento entre os dois não foi uma coisa nada sutil. Começou de forma despretensiosa - ao menos, para Cecília - movida pela adrenalina e pelo desejo causado como consequência daquele afeto reprimido. No entanto, o que não deveria passar de um beijo acabou se atrelando e gerando sentimentos intensamente cruéis, fazendo despertar o amor em dois jovens inconsequentes. A separação foi um momento intensamente melancólico e devastador para ambas as partes. Por ter acontecido de uma forma extremamente abrupta, geraram ressentimentos intensos que, por nunca terem sido explicados, efetivamente transformaram o amor em mágoa - ainda que algumas pessoas tentem vender como ódio. Vinte e cinco anos depois, um reencontro pode mudar a convicção de ambos e a forma de enxergar o mundo - ou não - se eles estiverem dispostos a ceder, vencendo aquela mágoa criada no passado.All Rights Reserved