CISNE NEGRO

Eu estava novamente naquele quarto hospitalar.
Acho que a minha décima tentativa de "ir dessa para uma melhor" não havia dado certo. Nem mesmo um coquetel era capaz de apagar eternamente. Olho para cima e vejo a quantidade de pacotes de soro pendurados. Era como se esse hospital fosse meu purgatório. Os olhares de reprovações de meus pais e os médicos,são como os anjos do céu me olhando com desdém. Como se eu não tivesse mais jeito,mais chance alguma de me redimir. E logo eu,que tenho noção de que aquilo que eu fazia,é um pecado grave contra minha vida.

Suspiro derrotada,enquanto me ajeito debaixo dos cobertores - aquele hospital parecia estar localizado na antártica,de tão frio e mórbido - até que vejo um corvo negro pousar na janela do lado direito de meu quarto. Olho o animal curiosa,jamais havia visto um tão de perto. O mesmo, começa á bater o bico no vidro,como se quisesse entrar. Dou uma pequena risada irônica. Até que uma voz grossa, começa á ressoar pelo branco do quarto - Você sabia que pra cada tentativa sua de descer ao tártaro,Deus separa um anjo caído para você? E a sua próxima tentativa,o anjo leva a sua alma para o inferno como punição? Alice,Alice... Eu sou a sua maior punição. Pois não quero ser um mero guia particular até os confins do universo. Eu quero a sua alma. - Aquelas palavras,meu deixam atordoada por uns segundos. Olho para a porta de meu quarto,desejando que uma enfermeira entrasse e dissesse que eu teria alucinações por conta da medicação forte. Até que olho para a janela,e no lugar do corvo,havia um rapaz. A pele do mesmo é branca como porcelana,cabelos negros como a noite e os olhos... Pareciam um eterno céu azul. Um para amar,e o outro para se perder. Ele me encara com uma fúria no olhar,e eu só queria sumir dali. Pela primeira vez,acho que fui longe demais da fronteira.