Um barulho de porta batendo atraiu sua atenção. Não conseguia enxergar um palmo a sua frente. Estar de olhos abertos ou fechados não fazia diferença. Podia sentir a escuridão envolvendo e cobiçando seu corpo trêmulo. Sentiu algo úmido e quente embaixo dos pés descalços. Algo que não era nada agradável. Estremeceu contendo-se para permanecer o mais quieta possível. A respiração estava ofegante. Parou, procurando por algo a sua volta, com uma mão tapando a boca e a outra tateando o vazio com ansiedade e medo. Podia jurar que uma corrente de vento cortou seu lado esquerdo, como se algo ou alguém tivesse se deslocado rapidamente naquela direção. O coração martelava dentro do peito e o estômago parecia querer despejar o que almoçara. Por duas ou três vezes sentiu algo pesado subir pela garganta e empacar quase na boca. Um sabor ácido ao paladar. Não iria conseguir se conter por muito tempo. Um dedo gelado e afiado subiu por sua espinha. Começou abaixo da lombar e subiu até sua nuca, fazendo seu corpo se dobrar na direção oposta. Um guincho saiu de sua boca, alto e gutural, imerso em terror e pavor. A respiração ficou descontrolada, já não temia fazer barulho. O que a estava perseguindo, feito uma presa, já sabia onde ela estava. Nada podia fazer além de esperar pelo fim. Pensou no pai, na irmã mais nova e nas coisas que desejava ter feito. Sentiu-se exposta, mesmo no escuro. Não queria estar nua. Não queria estar ali.