Olha quem está chegando - Micaela ouviu mais de dez vezes essa frase sendo sussurrada enquanto adentrava o cemitério. Ela levantou os óculos escuros ao avistar o caixão de seu pai rodeado por muitas pessoas e entre elas muitos parentes que ela nunca conheceu nos seus vinte e três anos de vida. - Dona Flora obrigada - Ela sussurrou ao ser abraçada pela fiel governanta de seu pai . Todos a olhavam com estranheza e um certo desprezo. - Micaela Espinosa Cervantes veio garantir sua herança? - uma voz masculina disse às suas costas e a feição de todos se encheu de espanto. - Miguel agora não é hora para isso - Sandro seu primo mais novo disse, vindo em passos ligeiros junto do esposo Paulo em sua direção e antes que Micaela volteasse para olhá-lo ouviu-os se afastando. - Não lhe dê atenção - Flora disse-lhe em voz baixa e o padre começou a rezar enquanto baixavam o caixão. - É o filho adotivo, ganês? - Micaela perguntou-lhe ao ouvido. - Sim, Miguel Tamiratih, eu lhe peço que lhe tenha um pouco de empatia...eram muito unidos ele e o sr Claudio, está sofrendo muito com a perda do pai. - Flora disse-lhe, fazendo um carinho em seus cabelos loiros claros. - Eu tentarei, por isso nem respondi ao seu insulto - Micaela falou e beijou uma rosa branca jogando sobre o caixão. Miguel aproximou-se sem olhá-la, sendo amparado por Sandro e Paulo. Micaela observava-o discretamente. Miguel chorava muito, embora tentasse enxugar as lágrimas não tinha êxito. Sua pele extremamente negra brilhava sob a luz da manhã. Miguel era um ganês alto, de costas largas e braços musculosos. Suas vestes brancas destacavam em meio aos demais que usavam preto. Ele se agachou junto a tumba e arrancou uma colar que tinha no pescoço de pedras escuras e soltou sobre o caixão. Todos silenciaram observando aquela cena comovedora. Micaela suspirou forte, envolvida naquela aura de emoção onde todos choravam ao vê-lo chorando de cabeça baixa enquanto...All Rights Reserved