47+34

Mais uma manhã, mais um dia seguindo a mesma rotina sagrada:
Desligar o despertador, colocar The Strokes para trocar, preparar um café bem forte e sem açúcar para tomar enquanto coloco rapidamente minha roupa para o trabalho. Sempre deixar um pouco de café cair na minha blusa limpa, xingar por ter me sujado, logo após prometer a mim mesmo que irei tomar mais cuidado no próximo dia. Troco a blusa. Escovar os dentes e tentar melhorar a minha cara. Falhar nisso, em melhorar a cara, não em escovar os dentes. Espiar se está chovendo, não estar, mas levar na bolsa um guarda-chuva mesmo assim. Tirar uma foto do fogão para provar ao meu futuro eu que não esqueci nada ligado. Destrancar a porta, colocar o fone, respirar fundo e me preparar mentalmente para ir trabalhar, dar play na música e...
Nesse momento, geralmente, de forma despretensiosa, eu colocaria a chave do meu apartamento debaixo do tapete, mas fui interrompido por um bilhete que me tirou do piloto automático cotidiano.
Fiquei perplexo. A primeira coisa que pensei foi "Um bilhete? Pra mim?" e depois imaginei o mais sensato "Devem ter enviado para a pessoa errada. Confundiram o apartamento". Devo confessar que também pensei uma terceira coisa: quem entrega bilhetes nos dias de hoje?"
O bilhete era de um vizinho, talvez vizinha, provavelmente uma vizinha. E dizia:
"Garoto do 34, adoro passar pelo seu apartamento, você sempre está escutando músicas ótimas. Ps: escute 'Last Night' do The Strokes, acho que você vai gostar.
Celine, sua vizinha do 47"
Então, eu me virei, entrei em casa e procurei por um papel.
"O que eu devo responder para a Celine? O que respondo?", pensei, ainda à procura de papel e caneta.
Com a melhor caligrafia que consegui, escrevi uma breve, simples, porém, muito bem pensada resposta:
"Querida Celine do 47, um jantar na minha casa em breve?
[ ] sim
[ ] não
Ps: escute "Nothing's gonna hurt you baby" do Cigarettes After Sex.
Matteo, seu vizinho do 34 (mas você j