𝑻𝒐𝒓𝒎𝒆𝒏𝒕𝒂 𝒅𝒂 𝑷𝒓𝒊𝒎𝒂𝒗𝒆𝒓𝒂 - 𝒂𝒛𝒓𝒊𝒆𝒍.

ᵀᵒʳᵐᵉⁿᵗᵃ ᵈᵃ ᵖʳⁱᵐᵃᵛᵉʳᵃ | Antes, eu não entendia por que uma força me arrancaria do meu mundo e me lançaria em outro. Achei que fosse loucura, delírio ou algum tipo de castigo que eu ainda não compreendia. Mas agora, depois de atravessar mais realidades do que posso contar, começo a perceber que há algo por trás disso tudo - algo que não faz sentido, mas que se repete. E desta vez, algo definitivamente está errado.

O quarto em que acordo parece distorcido, como se a própria matéria estivesse se ajustando ao meu corpo. O ar tem um cheiro adocicado e pesado, o chão está frio sob meus pés descalços, e há um espelho colossal à minha frente, iluminado por uma luz suave demais para ser natural. Me aproximo, hesitante, o coração acelerado, e então vejo... não a mim, mas alguém que eu nunca esperaria encontrar. Uma mulher de cabelos ruivos, longos e brilhantes, caindo pelas costas nuas. O corpo é elegante, com curvas que não reconheço, mas o rosto... o rosto é o que mais me assusta.

Porque é o meu.

Ou, pelo menos, tem o meu olhar, a minha expressão de confusão, pavor e incredulidade. Mas eu sei exatamente quem está ali, refletida diante de mim: Stella Pranvera, a filha do Grão-Senhor da Corte Primaveril. A vilã cruel e trágica do último volume de Corte de Rosas e Espinhos. A personagem que todos odeiam. A que eu mesma julguei, tema por tema, capítulo por capítulo. E agora, por algum motivo inexplicável, eu sou ela.

Minhas mãos tocam o espelho como se tentassem atravessar a barreira entre dois mundos, mas o frio do vidro me confirma o que eu já sei, não é um sonho. Estou no corpo dela. E isso não pode ser coincidência. Não depois de tudo. Algo maior está em jogo. E talvez, desta vez, a história não vá seguir como está escrita.

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