Inspirado em X - A Marca da Morte, mas ao invés de construir a tensão, eu optei por construir o tesão.
Valéria é amante de cinema, de Praia Grande, de cabeça bem formada e retraída dentro do casco, como uma tartaruga tímida. Em sua vida, não existiu momento em que imaginou um dia dirigir o filme pornô de seu amigo, mas aqui estamos.
Para deixar sua cidade natal, a força de vontade da aspirante a cineasta não basta, afinal. Mas, também, em sua vida, nunca imaginou que uma única situação lhe faria o generoso favor de desafiar suas convicções. Enquanto cineasta? Não só. Enquanto uma mulher adulta à beira dos 30 anos.
Preste bem atenção aos fatos - Valéria é uma mulher lésbica vivendo numa cidade litorana em meados dos anos 80. Como poderia prever que, ao conhecer a atriz principal do tal filme, fosse cair no abismo de seu mistério assim, sem avisos? E além disso, como poderia prever que a atriz principal "claramente heterossexual" lhe faria o convite: contracenar um filme só delas.
No abismo, a cineasta é atraída pelo magnetismo carnal que gera tantas perguntas - algo que quer arrancar do casco a tartaruga -, perguntas mais que incômodas: será que vale a pena o risco de se desafiar? Será que o sexo é a melhor forma? Qual é, afinal, a forma do desejo?
Mary o odeia. Não no sentido figurado - ela odeia mesmo. Ethan destruiu sua paz antes de sumir do país, e agora voltou, com aquele sorriso cínico e o mesmo olhar de superioridade.
Ethan a provoca só pelo prazer de vê-la irritada. Não perde tempo. Zomba, desafia só pra ver até onde consegue levar a paciência dela.
Ela tenta não mostrar, mas ele sabe exatamente onde ferir.
Ela, a nerd bolsista. Ele, o bad boy rico.