A socialização dos meios de meu coração

Já fazem sete anos desde aquela tarde em Londres, no final do inverno de 1883: sem seu camarada -- que, com efeito, foi sempre mais que um camarada --, Friedrich Engels ainda, em meio à redação de artigos, à locução de palestras e à organização do movimento operário, procura maneiras de elaborar seu luto, busca um caminho para repor o vácuo da ausência de seu maior amor, seu "Moro".

Numa verdadeira relação de mais-valia, o impetuoso Moro fez seu "doce Fred" viver, em riqueza de conteúdo de experiências, muito além do que imaginou lhe ser dado pelas condições materiais limitadas de toda existência humana, razão pela qual agora, sem o burguês contraditório que lhe explorava o coração sem que, no entanto, fosse ele roubado, mas sim enriquecido, Fred se vê incapaz de seguir um caminho sem seu Moro.

Em formato de diário íntimo, a história acompanha o lento trabalho de luto de Engels, enquanto as suas lembranças reconstituem, com o pesar da certeza de um tempo irrecuperável, as cenas do seu amor com Marx, que, desde o primeiro encontro, fez mais que partilhar uma vida -- fez socializar os meios de seu coração.