Todos os clichês com você

Margô & Theodoro acima de todas as diferenças - sobretudo de seus contrastes incontestáveis que nem se quer cabiam na contagem de seus dedos - eram melhores amigos.

Ou, melhor, mais adequado dizer: foram melhores amigos. Afinal, essa realidade era uma desbotada pelo tempo passado e tudo o que restara da ligação que tinham foi um punhado de frágeis memórias que preferiam ignorar.

Talvez morar um de frente para o outro tenha sido o aviso silencioso desde o início de tudo. Eles não moravam lado a lado, em uma proximidade companheira, quase juntos, mas sim, em linhas paralelas, jamais sem se tocar.

Algo que, eles dois, acabaram por se tornar: existências que não se cruzavam mesmo que frequentassem a mesma escola, na mesma cidadezinha, morando na mesma rua pacata e arborizada. Porque desde a grande briga em que tudo ruiu, Margô e Theodoro, com o contraste sendo a base dessa relação, foram levados para o lado oposto do que costumavam ser: inimigos, pois acima de todo o histórico de giz de cor compartilhado, noites do pijama sob cabanas de lençóis acolhedoras e caça às joaninhas no quintal, eles se odiavam.

Tudo muda quando Theo precisa de Margô para encenar uma mentira que há muito tempo vem guardando. Em uma troca de favores, proximidade forçada em opostos, namoro falso, e uma só cama, os antigos amigos agora inimigos vão precisar se unir. E, com sorte, perceber o clichê óbvio que sempre esteve entre eles.