Eu o observo, com um gosto agridoce no fundo da garganta, enquanto seus olhos negros e penetrantes encontram os meus, fazendo meu estômago se retorcer de um jeito torturante e familiar. Sustento seu olhar até que a minha pele queime, até que eu sinta uma pontada deliciosa e já bem conhecida de desejo entre as costelas, até que suas pupilas dilatem e pareçam mergulhar fundo em mim. Não consigo mais aguentar e, como sempre, sou a primeira a desviar o olhar. Por força do hábito ou pelos poucos e perigosos centímetros que nos separam, meu olhar esquadrinha suas feições e repousa na sua boca, permanecendo ali por tempo demais. Tempo suficiente para que eu não possa impedir o calor no meu ventre, tempo o bastante para que ele perceba e um canto de seus lábios se erga. - Você disfarça muito mal, sabia? - sua voz soa mais rouca do que de costume, ou talvez seja o arrepio que aquele sussurro me causa, sua respiração suave contra o meu rosto se misturando ao calor da raiva que arde nas minhas bochechas. É impressionante a habilidade que esse idiota tem de me fazer querer beijá-lo e, logo em seguida, matá-lo, de preferência lenta e dolorosamente.
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