Ó Pobre Sol Não deveria ter se apaixonado

Ó Sol, pobre chama dourada que ascende aos céus com tua luz infinita, és corpo e espírito de ardência e dádiva. Tua fisiologia é um milagre de combustão divina: cada célula tua é feita de fogo e alegria, teu coração pulsa como um núcleo estelar, tua pele irradia plasma vivo, tua respiração é um vento solar que aquece tudo que toca. Tu existes para brilhar, e ainda assim tua própria natureza te condena. Pois no âmago do teu ser, onde se fundem calor e vida, mora também a tua prisão - o excesso de luz, o excesso de amor e lá está a Lua - o mar de calmaria noturna, de prata e silêncio. Sua fisiologia é feita de água e sombra, de marés e pulsares lentos, um corpo frio mas vivo, onde cada batida ecoa como ondas contra penhascos eternos. Ele, o príncipe de mar e lua, não é ausência de calor, mas equilíbrio, contenção, serenidade. Sua essência não é apatia, mas disciplina. Onde o Sol explode, a Lua se curva. Onde o Sol avança, a Lua reflete.