Quando um casal tem muitos filhos é mais do que compreensível que um deles caia pelas brechas, por rachaduras obscuras que retiram a atenção necessária que esta criança deveria receber de seus pais, ficando perdido sem orientação ou apoio.
Rhaera era a primeira filha da Princesa Herdeira, a segunda filha, um ano mais nova do que o herdeiro do Trono, Jacaerys.
Ela era uma menina, uma princesa, e assim, embora sua mãe fosse a Herdeira, ela não passava de uma princesa. Embora um segundo filho devesse herdar Derivamarca, não seria ela, e sim seu irmão mais novo por dois anos, Lucerys Velaryon.
Isso talvez lhe tivesse chateado, mas não por ser preterida por seu irmão, não, ela o amava muito para isso. Mas talvez seja o fato de sua mãe, em nenhum momento, ter lutado pela chance de uma reinvindicação sua, quando já era claro o poder frágil que mulheres possuíam na sociedade.
Talvez seja o fato de sua mãe, uma mulher, a futura rainha, não ter pensado que sua filha devesse herdar algo.
Isso poderia ser esquecido também, com o compromisso não oficial de seu noivado com Jacaerys, ela seria rainha. Consorte, mas ainda assim haveria uma coroa em sua cabeça.
Ela cresceu com isso. Com a certeza de que ao lado do seu irmão, atrás de sua mãe, seria eles no comando.
Ela estudou para dar o seu melhor, para deixar todos ao redor orgulhosos. Escondeu as qualidades menos favoráveis de seu irmão, cuidou de o preparar e ensiná-lo a mascarar seu desgosto e sentimentos, um rei deveria ter a face fria, entendeu.
E qual foi sua retribuição?
E seus sacrifícios, feitos em sangue, suor e lágrimas? Valeram a pena? Foram reconhecidos?
Não.
Não.
Ela foi abandonada por sua família. Traída por seu irmão, mas considerada a traidora.
Ela não tinha nada. E ninguém ao seu lado. Seus irmãos a atacaram e a culparam. Ninguém ouviu seu lado.
E sabia que estava sozinha.