Astrea sempre foi uma criança incompreendida. Desde pequena, havia algo nela que perturbava as pessoas ao seu redor, algo que nem mesmo seus pais conseguiam decifrar. Colocar uma adolescente de doze anos em um hospital psiquiátrico parecia uma solução extrema, uma resposta ao que eles não conseguiam entender. Mas para Astrea, essa decisão era o verdadeiro mistério. Como era possível abandonarem sua própria filha apenas por não a compreenderem? Ano após ano, a rotina do hospital se tornava a única realidade que ela conhecia. Sem visitas, sem sorrisos, sem promessas de um futuro diferente. Seus pais a haviam deixado para trás, e por mais que tentasse não se importar, havia uma parte dela que sempre se lembrava de quanto isso doía. A rejeição pulsava em sua mente como uma ferida que nunca cicatrizava. Ela nunca conseguira se encaixar. Suas visões a isolavam. A capacidade de ver fragmentos do futuro, quebrados e confusos como um quebra-cabeça impossível de montar, a tornava ainda mais solitária. E, com o tempo, ela parou de tentar explicar. Ninguém ouviria mesmo. Mas então, naquela noite, algo diferente aconteceu. Em meio ao caos de suas premonições, uma imagem clara se formou: um garoto. Ele não era como os outros que ela via em seus sonhos. Ele parecia...normal. E no lugar onde vivia, cercada por mentes perturbadas e almas perdidas, aquilo era tudo o que ela precisava. Um ponto de luz em meio à escuridão crescente da sua vida.