''Pelo menos uma vez a cada cinquenta anos ele se torna uma entidade maligna buscando uma presa para lhe servir com lealdade, mas no final não encontra nada e continua vagando eternamente em busca de algo que não sabe o que é. ''
A imortalidade não parecia um fardo, quando se estava em uma sala de hospital, na recepção, sentado em uma das cadeiras gelidas e brancas, enquanto escutava sussurrros de orações em meio ao desespero de alguem ao qual sabia tudo da vida mas jamais trocara uma palavra com esta pessoa, em seus sussurros rezava para um Deus, um ser que ouvisse suas presses, ele poderia ajudar, mas tantos anos na terra talvez não tivesse mais resquicios de sentimentos, ele não precisava deles já que não tinha salvação, entretanto, aquela mãe ao lado parecia desesperada. Ajudar? pensou, seria um capricho de um Deus, uma alma inocente que mal havia pisado na terra. Seu coração sente algo, algo que não lembrava ter sentido alguma vez.
- Boa noite - Era março, um mês chuvoso, ele já não carregava relogio, não havia por que se preocupar com o tempo quando era tudo o que lhe restava depois de centenas de anos.
- Boa noite- Aquela mulher diz em meio as lagrimas, ele pensa em dizer algo - Minha filha vai morrer e aquele bebe não irá sobreviver - Ela diz em um sussurro, talvez não fosse ruim salvar uma vida inocente.
- E o bebê já tem um nome? - pergunta, aquela senhora o olha, não parecia ter tanto tempo na terra mas tinha esperança e no fundo sabedoria
- Yoko - Ela diz, ele sente algo, aquele nome lhe aqueceu, no fundo da alma vazia que já não lembrava se existia
- Yoko - Repete em um sussurro, uma salvação, um olhar calmo e sereno ocupa os olhos daquela senhora, talvez no fundo ela havia percebido que o Deus a quem rezava a havia escutado.
Oi mãe, então, essa é sua nora. Minha namorada.
Isso é o que eu mais queria dizer para ela, uma mulher de meia idade, religiosa e absolutamente conservadora. Até seria algo fácil caso eu gostasse de garotas, é, sou o típico caso gay em família intolerante.
Se assumir seria apenas um obstáculo a ser vencido, mas como faria algo assim com a ideia de que isso é errado, imoral e repugnante cravado em minha cabeça desde que eu me entendo por gente?! A cada dia quando meus olhos pousam sobre outro garoto meu coração dispara, minha respiração desestabiliza-se e desejos surgem, os demônios sussurram em meus ouvidos a condenação cada vez que isso acontece, me fazendo lutar contra algo incontrolável, me obrigando a tentar ser outro alguém além de mim mesmo. Afinal esse é o correto, não devo sentir isso, pensar nisso ou desejar isso. Devo lutar contra e ser o que é o certo!
Eu pensava assim, dizia a mim mesmo que esse era o caminho da salvação... até conhecer ele!