Toda travessia é, antes de tudo, um convite à transformação. Não importa o quanto resistimos, o ato de cruzar - seja um oceano, uma ideia ou um silêncio - nos coloca diante de algo inevitável: o encontro com aquilo que deixamos para trás e o confronto com o que carregamos sem perceber.
Os poemas que outrora lancei a Além Mar não foram apenas palavras entregues ao vento ou às águas. Foram pedaços de mim, pequenos vestígios que buscavam refúgio onde a finitude do ser encontra o infinito do desconhecido. Agora, enquanto escuto o eco do que foi enviado, percebo que esses versos não viajaram para longe. Eles atravessaram o mundo apenas para retornar como espelhos, refletindo partes de mim que eu não ousava encarar.
Este livro é a resposta de um diálogo silencioso entre quem fui e quem estou me tornando. É uma tentativa de habitar a outra margem - não aquela física, mas a margem invisível onde o eu se desfaz e se refaz, onde os limites entre o finito e o eterno se diluem.
Convido você, leitor, a embarcar nesta travessia comigo. Não prometo chegar a algum porto seguro, mas talvez, entre as ondas destes versos e reflexões, você também encontre vestígios da sua própria margem.
Porque, no fundo, a outra margem de mim é também a outra margem de todos nós.
Espero que apreciem a leitura.
De seu querido e amado escritor,
Cael.
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