O que você esperaria ter ou ser?
Quando nascemos, somos lançados em uma sociedade, uma família, um molde de ser. Crescemos presos aos estereótipos que nos cercam, raramente questionando por que seguimos tantas regras, por que nos acomodamos em caixas feitas para nos limitar. Mas chega um momento em que a rebeldia desperta - uma busca para descobrir quais dessas caixas realmente nos pertencem, quais podemos habitar sem sufocar.
Esse processo é breve, um piscar de olhos. Ainda crianças, começamos a questionar. Mas, e se nosso tempo for ainda mais curto? E se as perguntas ficarem sem respostas? Foi o que aconteceu comigo. Meu tempo se esgotou muito antes de eu poder sentir plenamente, questionar profundamente ou experimentar livremente. Talvez seja por isso que ainda estou aqui. Não preso - mas me prendendo a este mundo.
Não fiz todas as perguntas que precisava. Não vivi todas as vidas que queria. Então, permaneço vagando. Como um espírito errante, percorro cidades, países, cruzo caminhos com pessoas. Divido seus dias, experimento suas vidas por instantes. Às vezes, provoco pequenas travessuras, mudanças sutis. Se o que faço é bom ou ruim, pouco me importa. Tudo o que busco é a experiência.
Sempre fui livre de vínculos, de apegos. Até agora. Algo é diferente desta vez. Quanto mais tento partir, mais sou puxado de volta. Não pela força do mundo em si, mas por ela. Sua vida, seus medos, suas inseguranças. Ela não se assusta com minha forma disforme, meus grandes olhos leitosos. Ela me vê, não como uma ameaça, mas como algo mais.
No início, achei que seria apenas um observador, rondando os lugares que ela frequentava: sua casa, sua escola, os caminhos que percorria. Gostava de vê-la crescer, aprender com seus erros. Talvez, de algum modo, eu até lhe transmitisse segurança. Para ela, eu era um amigo, um protetor contra as coisas ruins. Mal sabia ela que eu poderia ser a própria coisa ruim.All Rights Reserved