Tudo começa com o primeiro disparo. O sangue corre frio em suas veias, o suor escorre pelas suas têmporas e até a pessoa menos religiosa se pega rezando para que tenha sido da própria arma. Marginais, traficantes, assassinos, crimes todos os dias. Essa era a adrenalina inesgotável de meter o pé onde nem a polícia convencional conseguia chegar. Para aqueles que não se acovardam diante da frágil linha tênue entre a vida e a morte, bem-vindos ao Batalhão de Operações Policiais Especiais, mais conhecido como BOPE, onde todos têm seus lugares reservados no inferno.
Eu bem sabia a complexidade desse caminho e que seguir por ele não me daria escolha a não ser ir até o fim. Eu não era do tipo de pessoa que "pedia 'pra sair", e quando decidi vestir a farda preta, minha escolha morreu também. Apesar das dificuldades, eu não me arrependia. Quando o sistema te decepciona, você cria uma desconfiança que jamais desaparece, e é só questão de tempo até que se canse dele. Eu carregava uma desilusão tão profunda sobre os princípios que valorizei durante toda a minha carreira, que não vi outra opção a não ser correr em direção ao perigo.
Porque ou você faz parte da solução, ou você faz parte do problema, e eu já não aguentava mais esperar. Pensei que fazer justiça com minhas próprias mãos traria de volta o meu espírito, mas quem dera fosse tão fácil. As coisas costumam seguir rumos muito difusos, e por ironia do destino, senti-me viva por alguém que carregava uma caveira no peito.
Missões dadas, eram missões cumpridas, mas eu estava travando uma batalha diferente. E aquela guerra de corações poderia ser a minha ruína. Ou a minha salvação.