Taças suspensas.
Respirações presas.
Olhares fixos na escuridão.
E então, de repente... as luzes morreram.
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Adrien - encostado na sombra mais funda do salão, onde ninguém ousava chegar - sentiu algo abrir caminho dentro dele, como uma lâmina antiga rasgando carne já cicatrizada.
Era uma sensação que acreditava ter enterrado junto da parte mais vulnerável de si.
Um arrepio conhecido.
Um chamado visceral.
Uma promessa que jamais conseguiu abandonar.
A escuridão não o incomodava.
Ele já vivia nela.
Mas aquela sensação... aquela ele reconhecia.
E detestava reconhecer.
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O apresentador clareou a garganta, tentando conter a tensão no ar, e anunciou com a grandiosidade de quem convoca tempestades:
- É uma honra apresentar a senhora Dupain-Cheng como a estrela de nossa noite... e a maior doadora desta casa.
O silêncio que seguiu foi brutal,
- como se o mundo aguardasse para ver quem sobreviveria ao impacto daquele nome.
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Durante três anos, Adrien a procurou.
Três anos desfiando cidades, ruínas, becos e rumores.
Três anos perseguindo rastros apagados, nomes falsos, sombras que fugiam ao toque.
Três anos abraçando uma obsessão tão profunda que o transformou por dentro -
uma obsessão que se enraizou nele como veneno... e o moldou como destino.
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E então, ali - real, impossível, viva - ela surgiu.
Marinette.
Linda como na última vez.
Talvez ainda mais.
Mas havia algo diferente nela... algo que ninguém conseguia nomear, mas todos sentiram.
Uma calma perigosa.
Uma força que parecia... afiada.
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Adrien ficou imóvel.
Os olhos dele se prenderam nela como presas de uma armadilha antiga.
Olhos que não reconheciam limites, nem ética, nem razão.
Olhos sombrios, famintos.
Obcecados.
E cada detalhe reacendeu a loucura que ele tentou - em vão - sufocar.
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Marinette pegou o microfone com um meio sorriso cheio de segredos.
- É um prazer estar de volta a Paris - disse ela, com um leve sorriso.