Quando Astraea retorna à corte, seu passo é como a maré que, sem pressa, invade a praia e redefine as margens do destino. Não há alarde em sua entrada, mas uma onda de murmúrios, como o suspiro de um vento que toca apenas aqueles dispostos a ouvir. Seu nome, abafado no começo, logo se espalha como uma brisa cortante que toca os mais profundos recantos da Fortaleza Vermelha. Cada movimento seu parece ser guiado por algo além do visível - uma força que rearranja o jogo de poder sem sequer mover uma peça. Ela é o fio de prata que entrelaça as tensões ocultas do reino, o eco da quietude que precede uma revolução inaudível. Sua beleza é uma promessa não de encantamento, mas de transformação: silenciosa, mas poderosa, como as marés que moldam as rochas sem que ninguém veja.
Contudo, Astraea não é uma peça submissa nas engrenagens de poder que movem os Sete Reinos. Ela é o sopro de inquietude que anuncia a tempestade, a rachadura nas muralhas da tradição e o crepitar das chamas que não podem ser contidas. Em sua figura reside a fusão de glória e ruína, de beleza e destruição, como uma estrela cadente que ilumina o céu apenas para consumi-lo em seu próprio esplendor. Astraea não caminha para moldar o mundo; ela é a fenda por onde o próprio mundo pode desmoronar. Pois, onde os dragões respiram, inevitavelmente o ar torna-se fogo, e o eco de sua existência promete não a continuidade, mas a reescrita de tudo aquilo que se acreditava eterno.