𝗔𝗟𝗪𝗔𝗬𝗦 𝗕𝗟𝗘𝗘𝗗 ✶ 𝖬𝗂𝗀𝗎𝖾𝗅 𝖣𝗂𝖺𝗓

Desde que se entendia por gente, Beatrice Hernandez soube que o mundo em que vivia não era gentil. Crescer em um bairro dominado pelo tráfico, onde cada beco escuro e cada esquina escondia um perigo diferente, a ensinou cedo que sobrevivência não era garantida, era conquistada. O nome Hector Salazar pairava sobre sua cidade como uma sombra inescapável, um nome que inspirava respeito, medo e silêncio absoluto. Ele governava aquele lugar, e Tris, inevitavelmente, acabou trabalhando para ele.

Aos dezesseis anos, conseguiu um emprego como barista no La Catrina, o bar de Hector, que era muito mais do que apenas um estabelecimento comum. Ali, negócios eram fechados com sussurros e apertos de mão discretos. Drogas, armas, informações, tudo circulava pelas mesas gastas do bar, onde criminosos se reuniam como lobos em um covil. Tris aprendeu a ler a linguagem dos olhares, a reconhecer o perigo antes mesmo que ele chegasse até ela. A garrafa de tequila que ela servia podia ser apenas um disfarce para um encontro que definiria o futuro de alguém. Mas enquanto mantinha sua postura impecável atrás do balcão, nos momentos de folga, dedicava-se ao que realmente a mantinha viva, karatê.

Tris não era apenas uma lutadora, era parte dos Los Calaveras, um dos grupos mais brutais que seu bairro já havia produzido. Criados na filosofia da morte, eles não apenas treinavam para vencer torneios, mas para sobreviver. Desde pequenos, foram ensinados a usar armas com precisão letal. Facas, bastões, revólveres. A violência não era uma escolha, era uma necessidade. No tatame, misturavam técnicas de karatê, taekwondo e capoeira, criando um estilo agressivo, imprevisível e implacável. Para Tris, lutar não era um esporte, era uma extensão de quem ela era.