18 parts Ongoing O futuro me encontrou, como um gato faminto, espreitando nos cantos da minha mente. Ainda sou Clara, mas a Clara que me tornei é um enigma, até para mim mesma. O tempo, esse pintor imprevisível, borrou as linhas da minha história, deixando um rastro de cores desbotadas e pinceladas hesitantes.
As pessoas me veem, claro, mas não me enxergam. A Clara que elas conhecem é uma sombra, um fantasma que dança na periferia da sua percepção. "Clara, você está bem?", eles perguntam, com um sorriso gentil que não chega aos seus olhos. "Sim", respondo, e as palavras saem como um sussurro, perdidas no eco da minha própria confusão.
A verdade é que nunca fui clara. As palavras se enroscam na minha garganta, formando nós que me impedem de falar. A comunicação, essa dança tão natural para os outros, é para mim um labirinto sem saída. Meus pensamentos, como um rio subterrâneo, correm em silêncio, escondidos sob a superfície da minha pele.
Mas, talvez, essa seja a minha força. A Clara que não se define, que se perde nas nuances do silêncio, é também a Clara que observa, que sente, que absorve o mundo em sua quietude. Sou um observador silencioso, um colecionador de momentos, um guardião de segredos.
O futuro, com suas promessas e incertezas, me espera. E eu, Clara, a que nunca foi clara, me preparo para enfrentá-lo. Talvez, em meio à névoa da minha própria história, eu finalmente encontre a clareza que sempre busquei. Ou talvez, a minha verdade esteja na própria neblina, na beleza do incompleto, na dança silenciosa do meu ser.