Andréa Amélia Sachs, herdeira do trono de Genôva, era uma mulher destinada à grandeza. Inteligente, destemida, imponente, era tudo o que uma futura rainha deveria ser... exceto por um único detalhe: seu péssimo temperamento.
Andréa simplesmente não conseguia se relacionar com quase ninguém fora de sua família. Era direta demais, muitas vezes rude, e seu orgulho beirava a arrogância. A jovem princesa odiava contato físico com quem julgava indigno, o que, para ela, incluía praticamente toda a corte e metade do reino.
Cansada das dificuldades políticas que isso causava, a rainha Clarisse, sua avó, tomou uma decisão definitiva: para herdar a coroa, Andréa teria que escolher uma esposa entre as dez pretendentes selecionadas cuidadosamente pelo conselho real. Mulheres que, além de alianças políticas vantajosas, talvez tivessem o dom da paciência... e quem sabe, um coração forte o bastante para conquistar o dela.
_Vó, eu não quero me casar..._ resmungou Andréa, afundando-se na poltrona do gabinete real, com os olhos semicerrados de irritação.
_ Andréa, minha querida, eu já tomei minha decisão._respondeu Clarisse, sem sequer levantar os olhos dos documentos diplomáticos que analisava. O tom calmo da rainha contrastava com a fúria contida da neta.
_Vamos ser sensatas, por favor..._insistiu Andréa, levantando-se num gesto dramático_Você sabe como eu sou! Eu tenho um temperamento horrível, sou grossa, impaciente e... sinceramente, você acha mesmo que uma mulher vai conseguir consertar isso?_ completou Andréa.
Ela riu, uma risada amarga, quase debochada, tentando disfarçar o medo por trás da postura rebelde. Mas Clarisse permaneceu inabalável. Apenas virou uma página com elegância e respondeu com tranquilidade:
_Talvez ela não vá consertar nada, minha neta. Mas talvez... te transforme por completo._disse de maneira, debochada, fazendo que Andréa levante da cadeira e sair da sala de real, irada.
Quando tudo parecia perfeito, uma terrível tragédia fez com que o mundo de Panny de Bourbon virasse de cabeça para baixo.
Era o dia mais importante de sua vida, o homem que ela amava estava finalmente ao seu lado, todas as barreiras pareciam ter sido vencidas, mas esse momento foi arrancado dela num piscar de olhos.
Um pedaço de seu coração foi levado em meio ao seu baile de casamento.
Nada a feriu mais do que a constatação de que se tornara uma viúva prematura. Porém, ainda havia um mal muito maior a enfrentar.
O pesadelo dos Bourbons se tornou uma sangrenta realidade. O trono francês foi dominado pelos Caspatios e nada seria capaz de preparar a atual rainha para aquilo que estaria por vir.
Agora, estando à mercê de um homem perverso, Panny terá de juntar os próprios cacos, lutando pela sobrevivência, enfrentando as sombras em seus aposentos, enquanto busca fazer de sua dor uma amiga e de seu luto uma escada.
Entre o breu dessas paredes, haverá de brilhar uma luz.
O pavio que ainda fumega poderá ser aceso num sopro e, talvez, a rainha regente seja capaz de enfrentar os seus medos, encontrando um caminho seguro entre os espinhos para proteger aqueles que ela ama de suas extremidades pontiagudas.
Quanto mais O Domínio da Coroa se expande, mais escarlate se torna a França e mais perto fica de sua própria revolução.