
Valedour dormia sob uma névoa azulada quando Selene abriu os olhos pela primeira vez - de novo. Era a sexta vez naquela eternidade disfarçada de vida que ela despertava num corpo novo com a mesma dor antiga queimando na palma da mão. O símbolo se formava aos poucos, como se o próprio tempo o redesenhasse com sangue e fogo: uma serpente devorando a própria cauda, o ciclo eterno daquilo que ela nunca conseguiu quebrar. Ela caminhava sozinha pelas ruas molhadas, os saltos afundando discretamente na calçada encharcada. O inverno chegara antes do previsto. Os prédios altos pareciam inclinar-se sobre ela, observando, julgando, lembrando. Sempre havia alguma coisa em Valedour que sussurrava o nome dele. Mesmo quando ela tentava esquecer. Ela o viu em sonhos antes de vê-lo de novo nesta vida. O mesmo olhar - cinza, como tempestades que não anunciam. O mesmo sorriso torto. A mesma cicatriz no destino. Eles haviam se amado como deuses, sofrido como pecadores, e morrido como lendas. Repetidamente. Mas desta vez, havia algo diferente. O símbolo na mão dela queimava com mais intensidade. Como se soubesse que ele já estava perto. Como se o tempo estivesse correndo, como se algo - ou alguém - estivesse interferindo nas regras antigas. Selene fechou os olhos por um instante, encostando a mão na parede fria de concreto. Seu coração batia rápido demais para alguém que tecnicamente não deveria mais sentir nada. "Se o destino insiste em me fazer morrer por ele, então eu quero que seja diferente desta vez." E, no entanto, ela sabia: a maldição nunca vinha sozinha. Ela trazia promessas. Trazia sangue. Trazia memórias enterradas. E desta vez... trazia escolhas.All Rights Reserved
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