Olá, eu me chamo Clara, e esta é a história da minha vida. Ou melhor, da minha realidade depois que o mundo virou de ponta cabeça.
Se você está se perguntando o que eu quero dizer com isso, fique tranquilo, prometo que vou explicar. Mas, como tudo aqui, vai ser aos poucos.
Há cerca de seis anos, uma nova doença apareceu, um fungo, chamado Cordyceps. Diziam que, se você fosse mordido por alguém contaminado ou tivesse o azar de entrar em contato com os esporos do fungo, já era uma sentença, e só questão de tempo até o fim.
Eu tinha 10 anos naquela época. Tudo o que lembro é da minha avó me colocando rapidamente dentro de um carro, naquela noite sem estrelas. Fomos embora de casa. O mundo estava em caos. Nas ruas, o desespero estampava o rosto de todos. Os jornais já falavam sobre o que estava acontecendo, mas quando você vê bem diante dos seus olhos, a realidade se torna ainda mais aterrorizante.
Agora, você deve estar se perguntando: como fui parar aqui? Nessa floresta fria, acompanhada de um grupo de sete pessoas? Como tudo isso aconteceu?
Calma. Eu vou contar. Só me deixem respirar um pouco.
Hoje, com 16 anos e grávida, minha vida está bem longe de ser normal. Até hoje ninguém sabe da gravidez, até porque se há uma coisa que eu aprendi é que, o silêncio pode ser tanto uma benção como uma maldição. E, antes que me perguntem: sim, tudo isso aconteceu por causa de uma boa dose de burrice da minha parte. Uma queda por um rapaz da comunidade. Comprometido, é claro. Porque eu nunca fui boa em escolhas fáceis.
Em uma noite de comemoração, alguns copos de álcool, uns olhares trocados, umas conversas jogadas ao vento e... pronto, acordei nua em um quarto em reforma, com ele apagado ao meu lado.
❄ Fogo. Era isso que eu conseguia ver nos olhos da minha pequena Latina e pela primeira vez isso não era algo bom.
- Você quer que eu vá embora ? - Eu perguntei depois de respirar forte.
Eu não podia chorar, não agora.
- Não só quero como eu preciso. Desde que você chegou tornou tudo um inferno, fez da minha vida um inferno! - Ela disse por fim.
Deixei uma grande quantidade de ar sair de dentro dos meus pulmões, não fazia mas sentindo algum evitar as lágrimas.
Eu estava quebrada sabendo que ela me odiava.
Camila era capaz de me causar coisas que nem eu sabia, ela fazia minha parte humana sobressair à tudo. Ela sabia disso.
Virei de costas a ela e ignorei os gritos nos quais vinham de trás de mim. Eu estava partindo sem ela, estava fazendo a sua própria vontade.
Eu estava queimando, e dessa vez não era porque eu à tinha no meu corpo. Eu estava partindo e deixando meu coração.