Os olhos de Felícia

Nesta poderosa e poética narrativa histórica, acompanhamos Felícia, uma mulher trans negra escravizada no Brasil colonial, que ousa existir e resistir em meio a um mundo que insiste em apagá-la. Vendida como "Simão", ela nasce em silêncio e dor, mas aos poucos costura sua própria identidade entre trapos, lembranças, orixás e coragem. Sob o jugo cruel do Coronel Antunes Barreto símbolo da brutalidade patriarcal e escravocrata Felícia desafia as margens impostas ao seu corpo e à sua alma, afirmando-se com dignidade no gesto, na fala contida, no olhar altivo e, sobretudo, no nome que ela mesma se dá. Acompanhada por Zabelê, uma velha sábia que vê o tempo nos olhos, e por companheiros que a reconhecem para além das correntes, Felícia transforma sua dor em caminho e sua existência em rebelião. A história se desenrola como um canto ancestral de luta, travessia e renascimento, conduzindo o leitor por cenários de cativeiro e floresta, de violência e afeto, de silêncio e revolução. Mais do que um relato sobre fuga ou sobrevivência, este texto é um manifesto literário sobre identidade, memória, liberdade e a força indestrutível de ser quem se é. Felícia não é salva: ela se salva. E seu nome, antes sussurrado na escuridão, torna-se tambor, reza e tempestade. Um conto de travessia e eternidade, onde o corpo é território de resistência e o nome, uma semente de liberdade soprada pelo vento.